As baronesas do café: elas já têm 10% da produção de MG

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Alfenas e Guaxupé. Vânia Passos Oliveira, 35, de Alfenas. Maria José Lopes, 47, de Guaxupé. Ambas fazem parte de uma estatística crescente que tem colocado cada vez mais mulheres à frente das lavouras de café. De acordo com dados da Cooxupé, a maior cooperativa do ramo no mundo inteiro, que receberá 6 milhões das 50 milhões de sacas do café do Brasil, elas já são praticamente 10% do total dos produtores. "Nós temos hoje 11.800 cooperados e mais de 1.000 são mulheres. Mas podemos dizer que temos pelo menos outras 11 mil por trás do sucesso da produção, pensando das esposas e filhas", afirma o presidente da Cooxupé, Carlos Alberto Paulino da Costa.

Segundo ele, o diferencial das mãos femininas no negócio é visto diretamente nas finanças. "Se elas são 10%, o normal seria termos a mesma proporção nos problemas financeiros que aparecem para a direção. Só que, de tudo que chega aqui, nenhum problema vem das produtoras", afirma Paulino da Costa.

Para Vânia, que comanda uma grande produção em Alfenas, Sul de Minas, o diferencial feminino é a persistência e o capricho. Embora tenha nascido no meio cafeeiro – seu pai está no ramo há 40 anos -, ela só começou a tocar o negócios há dez. Primeiro, estudou administração e trabalhou em uma empresa da área química, em São Paulo. Ela decidi voltar para Alfenas para ajudar o pai, que está mais velho. Quando chegou, começou do zero. "Eu fui criada mais na cidade, não fui uma criança criada na fazenda. Então tive que aprender tudo: o manejo, a parte técnica, o que foi difícil", conta.

Essa dificuldade relatada por Vânia, jamais seria percebida por quem a vê entre os pés de café, falando sobre os tipos de grãos, sobre os melhores processos de adubação ou aplicação de defensivos. "O principal que aprendi é que tudo tem sua hora, um pequeno atraso pode trazer prejuízo na colheita e, quanto melhor a qualidade, melhor é o preço", conta Vânia.

Já com Maria José, que também está entre os 10% das baronesas do café, o conhecimento da causa não foi problema. Nascida e criada em meia a lavouras em Mata do Sino, distrito de Juruaia, Sul de Minas, ela já sabia bastante quando começou a mexer na própria plantação, há seis anos, em Guaxupé. "Nasci na roça, ajudava meu pai e desde cedo já entendia de café. Está no sangue", conta.

Para Maria José, que abandonou a carreira de professora para plantar café, a lavoura em si não tem segredo. "O mais difícil é lidar com a contratação de pessoal para colheita. A gente tem que brigar na hora de negociar o pagamento com os "apanhadores", para impor respeito. Ainda tem gente que te vê dar uma ordem e não obedece porque acha que mulher não entende".

Segundo Vânia, a maior diferença da mulher em relação ao homem produtor é a cautela. "A mulher tem mais receio, não dá um passo maior do que a perna, pensa duas vezes antes de fazer um financiamento. Já o homem, se atira mais nas coisas. A gente tem mais o pé no chão", conta.

Sensibilidade traz crescimento mais sustentável
A sensibilidade feminina é ressaltada como um ponto positivo para os negócios. "Elas são mais conservadoras, isso é um fator cultural, e o fato de serem menos impetuosas leva a um crescimento mais lento, porém, mais sustentável", afirma o presidente das comissões de café da Federação da Agricultura e pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Breno Mesquita.

"A competência tem feito a mulher ocupar cada vez mais postos chaves na sociedade, seja em questões administrativas, públicas ou privadas", destaca Mesquita. A conselheira administrativa da Cooxupé, Maria Liney Costa Fleury, lembra que, há oito anos, quando a cooperativa começou a fazer reuniões voltadas para mulheres dos produtores, não era tão comum vê-las à frente da gestão das lavouras. "Hoje, elas já são 10%", destaca.

Das burocracias ao trator

Alfenas e Nova Rezende. Elisandra Rodrigues de Souza, 33, cresceu entre os pés de café, ajudando o pai na colheita. Casou-se com um também produtor. Hoje, ela não só ajuda a comandar uma produção de 34 hectares, como é a presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Nova Rezende, no Sul de Minas. Ela é uma das 12 mulheres que presidem sindicatos ligados à Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg). A entidade congrega 390 sindicatos.

O forte de Elisandra é a papelada. Na fazenda da família, é ela quem toma conta dos registros, dos pagamentos e de boa parte da gestão. Mas se precisar, vai para cima do trator. "Tenho carteira D, tirei para poder dirigir caminhão e os ônibus que levam o pessoal na época da colheita. Também dirijo o trator, para puxar o café", conta.

De acordo com Elisandra, o principal diferencial das mulheres nas lavouras de café é a organização e o detalhismo. "Mulher fica mais de olho, acompanha mais de perto. Uma das coisas que eu consegui, por exemplo, foi a economia de custo com instrumentos de trabalho como óculos, botinas e luvas. Foi só organizar melhor a distribuição", exemplifica.

Elisandra, que ajuda a comandar 50 funcionários, conta que, apesar de todos os avanços, ainda existe preconceito. "Por mais que a gente fala, ainda tem homem que não acredita que entendemos", afirma.

Se ainda há preconceito hoje, há 20 anos, quando Maria Liney Costa Fleury teve que assumir de repente as lavouras, após a morte do marido, a situação era ainda pior. "Lidar com os ‘peões’ era o mais difícil. Na época da colheita, quando é preciso contratar muita gente, muitas vezes eles querem falar diretamente com a dona, e é mais penoso para a mulher", afirma Liney.

Agora, além de tocar propriedades cafeicultoras de 400 ha na região de Alfenas, ela é a única mulher do Conselho de Administração da Cooxupé, a maior cooperativa de produtores de café do mundo, onde está há oito anos. "São oito conselheiros homens e eu brinco que é bom ter uma mulher entre eles, para ponderar as discussões", comenta Liney.

Na opinião dela, o avanço das mulheres nas lavouras de café trouxe mais cautela aos investimentos. "A mulher é, por natureza, mais cautelosa, mais precavida. Ela pensa mais antes de se arriscar e tem como característica marcante a perseverança", ressalta.

"Não é questão de ser mais ou menos inteligente do que o homem, mas a mulher tem mais humildade e sabe ceder melhor, quando é necessário", disse a produtora de café.

Quatro a cada cem xícaras são feitas com café da Cooxupé

Guaxupé. No ano passado, o mundo consumiu cerca de 130 milhões de sacas de café. Deste total, 5,1 milhões saíram da Cooxupé, a maior cooperativa no ramo, com sede em Guaxupé. "É o equivalente a 4% do total produzido pela cooperativa", calcula o presidente da Cooxupé, Carlos Alberto Paulino da Costa. Isso significa que a cada cem xícaras, quatro são feitas com café da cooperativa. Segundo Costa, a previsão para este ano é receber 6 milhões de sacas, sendo 85% para exportação. O maior comprador são os Estados Unidos. A rede de cafeterias Sturbucks, por exemplo, compra mais de 1 milhão. Em 2011, o faturamento foi de R$ 3 bilhões e, para 2012, deve ser de R$ 3,3 bilhões.

Fonte: O Tempo Online

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