ARTIGO: Choveu! E agora?

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Essa semana começou ao contrário da semana passada, com o mercado caindo -1.165 pontos nos 2 primeiros pregões (praticamente devolvendo a alta da sexta-feira do dia 01 de outubro). O Dez-21 fechou no dia 01/10 @ 204,05 centavos de dólar por libra-peso e na terça-feira fechou @ 192,40 centavos de dólar por libra-peso. Essa queda foi atribuída à chegada das chuvas e à desvalorização do R$ frente ao US$ (voltando a negociar entre 5,50-5.54 R$/US$)!

As chuvas finalmente voltaram a cair nas principais zonas produtoras entre 10-70 mm (de forma irregular e com volumes variando de região para região). Voltaram a ocorrer chuvas de granizo em outras regiões gerando novos estragos e prejuízos. Após o mercado “digerir” as chuvas e as previsões meteorológicas dos próximos 10 dias as compras voltaram nas sessões seguintes (voltando a subir +980 pontos) e terminando a semana novamente acima dos 200 centavos de dólar por libra-peso em todos os vencimentos e o Dez-21 terminou a semana @ 201,35 centavos de dólar por libra-peso!

Essa queda inicial chegou a assustar os produtores brasileiros pois os compradores no mercado interno recuaram as ofertas de compra, reduzindo os preços indicativos entre 50-150 R$/saca, entre 950-1.150 R$/saca, dependendo da qualidade/posto de entrega do produto. Mesmo assim o mercado segue “comprador” com pouco volume na venda.

Como falamos aqui nas últimas semanas, ainda tem muita coisa para acontecer entre o “agora e o início da próxima colheita”. Ninguém sabe como as plantas vão reagir após atravessarem o stress hídrico e o efeito das geadas. Qualquer estimativa variando +-2/+-3 sacas por hc no final da safra poderá representar uma variação entre -5/+5 milhões de sacas. Por outro lado, as chuvas induziram as floradas em muitas regiões. E agora?

A queda do início da semana levou o mercado a testar e a romper a média móvel dos 9 dias (ao redor dos 195 centavos de dólar por libra-peso) e a testar o suporte da média móvel dos 17 dias e dos 50 dias (@ 192 e 189 centavos de dólar por libra-peso respectivamente). O indicador “estocástico” também “virou” indicando vendas.

A partir da quarta-feira o mesmo indicador “estocástico” voltou a reverter, indicando compras. Notícias “altistas” voltaram a circular a partir da quarta-feira dando suporte ao mercado. Terminamos a semana com o Dez-21 fechando acima das médias móveis dos 9/17/50 dias (as quais voltaram a virar um suporte importante para seguirmos acompanhando de perto, respectivamente @ 196,50 / 192,40 e 188,80 centavos de dólar por libra-peso).

Na sexta-feira o Dez-21 (vide gráfico abaixo) voltou a romper e a negociar acima da importante resistência da média móvel dos 50 dias @ 202,10 centavos de dólar por libra-peso! Rompendo essa resistência poderemos ver o Dez-21 buscar a máxima do contrato negociado até agora @ 217,85 (valor atingido em 26 de julho 2021), e deixando espaço para seguir subindo para buscar nossos objetivos dos 250-300 centavos de dólar por libra-peso!

Os fundos+especuladores voltaram às compras e terminaram o período comprados em +48.507 lotes (aumentaram a posição em +1.757 lotes). Atenção nas próximas resistências @ 202,10 e 217,85 centavos de dólar por libra-peso. Rompendo essas resistências poderemos assistir ao acionamento de novos “stops” e novo stress com as chamadas de margem!

O mercado continua recebendo notícias positivas, e nesta semana tivemos as seguintes:

– cargas de café sendo enviadas para a Europa por via aérea;

– rumores do Brasil entrar no mercado para importar café (com algumas empresas já solicitando autorização junto as autoridades brasileiras);

– nova publicação da OIC* reduzindo sua estimativa do superávit global de café em -240 mil sacas (passando de 2,63 para 2,39 milhões de sacas) e aumentando sua estimativa para o consumo global de café em +250 mil sacas (passando de 167,01 para 167,26 milhões de sacas)

– redução nos estoques certificados de café arábica voltando a ficar abaixo dos 2.000.000 de sacas!

A Conab ainda não publicou o estoque de passagem referente a safra 20/21 para a safra 21/22 e a Cecafé também não publicou as exportações realizadas no mês de Setembro-21! Será que um dia o Brasil vai ter uma estatística confiável nesse setor?

Pelo site da Cecafé até o dia 6 de outubro foram embarcadas +410.625 sacas e entre o mês de Setembro-21 até o dia 05 de outubro foram embarcadas um total de +2.892.698 sacas. Ora, esse “número total” inclui os embarques realizados nos primeiros dias do mês de outubro! Qual a dificuldade em publicar os números fechados mês a mês? Sabemos que o “mês calendário” praxe de mercado ocorre entre os dias 1-30/31 de cada mês, e não entre os dias 1-30+x dias do mês seguinte! Com toda a tecnologia existente hoje em dia não faz sentido termos esses números publicados, disponibilizados para o mercado “apenas quando quiserem”. Enfim, que essa crítica seja construtiva para os responsáveis pelo levantamento e publicação desses números! E que seja publicados no máximo no terceiro-quinto dia útil do mês seguinte.

Os problemas logísticos continuam com os valores dos fretes ainda nas alturas. Com esse aumento nos fretes combinados com a valorização das cotações na bolsa e com a desvalorização do R$ frente ao US$ os diferenciais voltaram a aumentar, passando de -25/30 pontos para -40/45 pontos (vale a pena a leitura do analista Luis Marcel Rizieri (no link anexo: https://www.linkedin.com/pulse/breve-coment%25C3%25A1rio-sobre-o-mercado-de-caf%25C3%25A9-luiz-marcel-ribeiro-rizieri-3f/?trackingId=oR58zHJuQ06a4G9rkd1lCg%3D%3D )

Os produtores não tem nada a ver com esse aumento nos diferenciais entre as grandes tradings/importadores no destino. Ficou claro que os importadores e tradings podem pagar um valor adicional para os produtores ao redor do mundo entre +10/+20 US$/saca! Agora é o momento para os produtores seguirem firmes na ponta da venda, vendendo apenas o necessário, “da mão para a boca”! Já vimos essa situação ocorrer em outros mercados onde o diferencial no mercado de exportação era um e o mercado interno continuou firme, sendo negociado com prêmios para a exportação!

 

“Sugestões para próxima semana”:

Praticamente as mesmas da semana passada:

Mercado Spot: Seguir vendendo apenas o necessário para pagar as contas do dia/semana, com preço mínimo @ 1.350-1.500 R$/saca para o café tipo arábica e 1.650/1.700 R$/saca para “cereja descascado” e @ 850/900 R$/saca para o café tipo robusta. “Café premium” vai ser disputado a tapas daqui para frente!

Nesse mercado onde existe a possibilidade real do Brasil vir a importar café, os preços deverão continuar firmes até o início da próxima safra. Seguimos positivos e R$ 1.500/saca “é logo ali”!

Para a safra 22/23:

No Set-22: quem já tiver comprado proteção, através das compras de opções de venda “Put”, sugerimos manter a posição ou “rolar pra cima”.

Para quem tiver vendido opções de compra “Call” comprar uma nova opção de compra “Call” (acima do strike da opção de compra “Call” vendida) para montar uma estrutura “Call-Spread” e se proteger contra uma eventual explosão nos preços!

Para quem ainda tem posição em aberto, aguardem para vender, mas protejam-se contra eventuais baixas! Analisem a compra de opções de venda “Put” strike +200/+190 centavos de dólar por libra-peso ou comprando estruturas “Put-Spread” strike +200/-170 centavos de dólar por libra-peso! Lembrem-se: compra-se seguro para não precisar usar!! O mesmo principio que vale para o seu carro deve ser usado para sua lavoura!

Acreditamos que o mercado ainda irá dar excelentes oportunidades para o produtor vender/travar com preços acima dos 1.500/1.700 R$/saca.

– Para aqueles que estão realizando “travas” para a safra 22/23 não se esqueçam em fazer o seguro contra eventual quebra na safra e novas altas no mercado (comprando opções de compra “Call” ou “Call-Spreads” fora do dinheiro.

OBSAcabou !!! Semana que vem começa um dos nossos cursos: o Essencial entre os dias 18 e 22 de outubro e o Avançado de Opções entre os dias 8 e 12 de novembro. Sempre com início às 16 horas e com duas horas e meia de duração. Depois, só em 2022. Agora só em 2022!!

Ótima semana a todos!

 

Marcelo Fraga Moreira*

*Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.

** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício  mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício  mais baixa e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício  mais alto e vendendo Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício  mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
** “Cecafé” = Conselho dos Exportadores de Café do Brasil
** “USDA” = Departamento da Agricultura dos Estados Unidos
** “OIC” = Organização Internacional do Café
** “ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café

Fonte: Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda