Após recorde de preços de 2011, cafeicultores seguram safras

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Os cafeicultores brasileiros estão segurando boa parte da produção à espera de preços mais elevados. No ano passado, os torrefadores e as empresas de alimentos aproveitaram o cenário de escassez do grão no mundo. Os preços das sacas atingiram o nível mais alto em 14 anos, uma cotação média de R$ 500. Hoje, a R$ 370, os produtores estão descontentes com os preços e tentam protelar as vendas, apoiados nas economias dos últimos anos e no fundo governamental Funcafé, que oferece empréstimos, sem os quais teriam de vender as safras imediatamente.

Em setembro do ano passado, 56% da safra anual já havia sido vendida. Nesse ano, segundo estimativa da consultoria Safras & Mercado, cerca de 43% foi comercializada. “A comercialização segue lenta”, diz o analista de café da Safras & Mercado, Gil Barabach. “Os produtores estão administrando as vendas para reduzir os efeitos da oferta no curto prazo.”

No ano passado, a produção brasileira de café commodity alcançou 50 milhões de sacas, a maior em dez anos. Nesse ano, a estimativa é ainda maior: os cafeicultores brasileiros produzirão 54,9 milhões de sacas até o fim de 2012. A oferta pode derrubar o preços até que a demanda no hemisfério norte aumente com a chegada do inverno. “É preciso ter cuidado”, diz Barabach. “Evitar a afobação na hora de vender é valido, mas isso gera riscos.”

Os financiamentos do Funcafé seguem as regras do Sistema Nacional de Crédito Rural, com taxa de juros de 5,5% ao ano. Por enquanto, R$ 900 milhões já foram aprovados para linhas de crédito destinadas à estocagem e mais R$ 600 milhões foram liberados para financiar estoques ainda nesse ano. A quantia representa aumento de aproximadamente 150% nas verbas destinadas à estocagem em relação a 2011.

“No ano passado, como a safra era menor, o foco ficou no custeio e na colheita e para estocagem foram destinados cerca de R$600 milhões”, diz Edilson Alcântara, diretor do Departamento do Café do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
 
A estratégia adotada pelos cafeicultores pode ser considerada arriscada, porque os grandes compradores de café não estão com pressa. Os estoques globais estão mais altos do que no ano passado. Enquanto em 2011 haviam 24 milhões de sacas de 60 kg armazenadas, neste ano os estoques mundiais passaram a 27 milhões de sacas. Além disso, fornecedores da Colômbia e América Central devem suprir a demanda. “Países da América Central e o Vietnã são concorrentes que podem ocupar espaço caso produtores brasileiros segurem muito as vendas”, diz Barabach.

Estes países, porém, enfrentam problemas na produção. “A Colômbia está tendo problemas com pragas, o México é completamente desorganizado e não possui um sistema de apoio efetivo ao produtor, e países como a Etiópia, Angola e Moçambique têm produtividade baixíssima”, diz Edilson Alcântara, do Mapa. Estocar pode ser uma atitude arriscada, mas com o aumento do consumo há uma perspectiva de manutenção de demanda. “O Brasil é o maior exportador e o segundo maior consumidor de café, tem de saber administrar os preços, não pode entregar assim”, diz Alcântara.

A diretora executiva da Associação Brasileira de Cafés Especiais, Vanúsia Nogueira, também acredita nas projeções otimistas dos exportadores brasileiros, “na próxima safra vamos exportar 30 milhões de sacas”. Entre 2011 e 2012, as exportações de café totalizaram 24,7 milhões de sacas segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). O café commodity representou cerca de 9% das exportações totais entre os meses de janeiro e setembro desse ano.

Falta de tecnologia

Além das preocupações com o preço das sacas, os cafeicultores brasileiros também temem a falta de tecnologia para a colheita. A maior parte da produção brasileira ainda está baseada na cafeicultura de montanha. Nesses terrenos, as plantas criam raízes mais fortes e profundas para se sustentar, por isso absorvem mais nutrientes e desenvolvem frutos melhores, mas há pouca tecnologia para realizar a colheita. “A cafeicultura de montanha tem um custo bem maior porque ainda não temos o equipamento adequado”, diz Vanúsia Nogueira. “Os produtores estão sofrendo por falta de tecnologia”.

A única máquina desenvolvida para esse tipo de cultivo é brasileira e se parece com mãos que derrubam os frutos de café do pé e substituem a força de trabalho de dez homens. Ainda assim, a tecnologia é insuficiente. “Ainda precisa muito do ser humano”, diz Alcântara. “No cerrado, uma colhedeira mecânica colhe de 30 a 50 hectares com apenas um homem, é uma velocidade estupenda”.

O cultivo de montanha é comum em outros países, mas até hoje em nenhum país foi desenvolvida a tecnologia necessária para esse tipo de colheita. Na Colômbia e no Vietnã, por exemplo, o café também é de montanha, mas a mão de obra barata e as intervenções estatais tornam a colheita manual ainda muito rentável.

No Brasil, o cultivo é cinco vezes mais caro do que a cafeicultura de cerrado. “A colheita mecânica custa 20% da colheita manual”, diz Alcântara. Por enquanto, pouco mais de 50% do café produzido no Brasil é de montanha.

Fonte: iG Economia – Agropecuária

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