Após morte do pai, filhos apostam na inovação e levam tradição do café à frente em Santa Rita do Sapucaí (MG)

Imprimir
A família Dias, em Santa Rita do Sapucaí (MG), está na terceira geração de produção e colheita do café. Após a morte do patriarca da família, os filhos decidiram levar à frente a tradição da família e apostaram na inovação. Tanto que hoje o café produzido na propriedade deles é reconhecido internacionalmente. Agora todo o conhecimento adquirido o longo de quase 50 anos começa a ser passado para os netos. A expectativa é que ideias jovens contribuam para o desenvolvimento da produção familiar.

Paula Dias, produtora de café na cidade, define a trajetória da família que se uniu e formou uma equipe para dar continuidade ao sonho do sogro Joel. “As crianças ajudavam o pai por diversão. Agora, virou profissão. Um sonho que passou a ser nosso”.

Joel Dias comprou sua primeira fazenda de café em 1969, realizando o desejo de ter um cafezal nas montanhas do Sul de Minas. Mas a história da família toma rumos inesperados depois de ele ser diagnosticado com Alzheimer. Foi preciso vender parte das fazendas cafeeiras para dar assistência à saúde de Joel.

A colheita é feita manualmente pela própria família para preservar a qualidade do grão (Foto: Arquivo Pessoal / Paula Dias)

Após lutar 11 anos contra o Alzheimer, ele deixou um legado à família: união. Foi por esse gesto que o filho Pedro Dias abraçou os ideais do pai, voltou do exterior depois de 19 anos e decidiu não permitir que o sonho de Joel acabasse.

“Depois que ele nos deixou, ficou uma vontade de continuar isso, de não deixar esse sonho acabar na doença do meu pai. Ele sempre gostou do café e das raízes, valorizava a história da família e isso, é claro, foi passado pra gente”.

Mesmo tendo crescido em meio à produção de café, direcionar o negócio da família era um desafio. Foi pensando na continuidade do trabalho que o pai havia começado, que Pedro cursou comércio exterior, para aprender sobre exportação, certificou o café da fazenda em que produzia, se organizou e recomeçou.

A fase inicial não foi fácil para a família. De acordo com Paula, a exportação do café produzido em Santa Rita ajudava, mas não resolvia o problema. “Decidi colocar nosso produto no mercado local, mas era muito difícil porque ninguém queria comprar devido às grandes marcas da região”.

Inovação sobre rodas
Com as primeiras dificuldades, a família decidiu inovar. Em 2015 inaugurou a Coffee Bike: uma bicicleta que ficava parada em frente aos estabelecimentos da cidade vendendo produtos cuja base era o café. Mas para que isso acontecesse, as lojas precisariam vender o café da família e, em troca, recebiam a Coffee Bike durante um período para chamar a atenção dos consumidores.

Bike Coffee foi iniciativa para que o café da família ficasse conhecido na cidade (Foto: Arquivo Pessoal / Paula Dias)

Paula conta que, no começo, muita gente não entendia a proposta, mas depois de muitas tentativas, a inovação funcionou e as adaptações começaram. Além dos produtos, a bicicleta possui agora mel, licor, chá, doces, geléia e uma infinidade de opções, tudo feito por famílias da cidade utilizando como base o café.

“Seja na praça ou em eventos para ocasiões especiais, a bicicleta atrai a atenção de todos ao redor, é a melhor forma de estarmos em constante contato com nossos clientes”.

Depois desse sucesso, não restou outra alternativa à família que abrir uma loja física: a Coffee Shop. Com pouco mais de sete meses de existência, o espaço ficou em sexto lugar das quinze cafeterias mais descoladas de 2017 em um site de notícias internacional.

Filho do casal auxilia os pais na cafeteria. (Foto: Arquivo Pessoal / Paula Dias)

Família decidiu abrir loja física depois do sucesso com a cafeteria sobre duas rodas (Foto: Arquivo Pessoal / Paula Dias)

Crescimento em família
Não foi apenas o Pedro que seguiu os mesmos passos do pai. Seus quatro filhos também estão inseridos na produção de café desde pequenos. Mesmo com formação e estudos diferentes do ramo do café, os jovens estão diretamente ligados ao setor.

Crianças cresceram em meio à produção do café e se apaixonaram pelos cuidados com o grão (Foto: Arquivo Pessoal / Paula Dias)

Aos 26 anos, Guilherme, o filho mais velho, é formado em marketing e também é barista. Com 23 anos, Lucas estuda ciências da computação e torra café. Joel, 21 anos, estuda jornalismo, mora no exterior e faz planos para a empresa se expandir internacionalmente. E Nikolas, o mais novo com 14 anos, acompanha desde pequeno a degustação da bebida, dia de campo, ajuda e lidera o terreiro de café, é barista e auxilia os pais na cafeteria. Motivo de orgulho, e muito, para o pai.

“Nossos filhos sempre passavam as férias na fazenda e isso foi colocando a paixão no café desde pequenos. Hoje eles se tornaram e estão se tornando grandes profissionais em suas áreas e também no setor. Eles percebem o trabalho, o valor e os resultados da nossa produção. Novas cabeças com novas ideias”.

Aos 14 anos, Nikolas Dias cresceu com a família produzindo café e hoje se tornou barista (Foto: Arquivo Pessoal / Paula Dias)

O segredo de tudo isso é o crescimento em família. Hoje eles possuem 16 hectares de terra e colhem 350 sacas por ano. Um cliente da família ganhou 11 vezes o prêmio de melhor blend (mistura de grãos de café) e, um deles, foi com o café da produção familiar. “É recompensador ver os filhos seguirem nossos passos. Sentimento de missão cumprida. Já se tornaram quatro homens bons, trabalhadores e trilhando bons caminhos. Somos uma família orgulhosa”.

Fonte: G1 Sul de Minas (Por Gustavo Oliva)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *