ALTA NOS ALIMENTOS AJUDA A CAUSAR PROTESTOS

Os preços altos das commodities agrícolas têm causado uma onda de protestos em vários países em desenvolvimento. Para evitar uma maior pressão inflacionária alguns governos estão suspendendo licenças de exportações, enquanto outros estão correndo para o mercado internacional para comprar os produtos essenciais, o que acaba por colocar mais lenha na fogueira – ou seja puxar mais os preços.

As regiões mais afetadas são a África, Oriente-Médio e Ásia, e dentro da primeira vimos no final desta semana protestos que resultaram em confrontos com policiais e até implementação de toque de recolher. A ira da população do Egito se junta a recente protestos na Tunísia e Iêmen. No entanto a localização estratégica do Egito que é onde fica o Canal de Suez – uma das mais movimentadas áreas de movimentação de cargas marítimas, incluindo commodities como o petróleo – gerou mais nervosismo nos mercados, provocando uma alta no dólar americano, dos metais preciosos, do mercado de energia, e a queda das bolsas de ações.

É verdade que o mercado acionário também sentiu com o downgrade dos títulos japoneses, assim como a queda do PIB na Inglaterra, a alta dos juros na Índia, e números negativos de pedidos de bens duráveis e crescimento do PIB no 4º trimestre mais baixo do que o esperado nos Estados Unidos

Frente a tantas notícias que negativamente pressionaram o cenário macroeconômico, era de se esperar que o café caísse, mas não foi o caso. Isto não quer dizer que o mercado deixou de ser volátil durante a semana. Na terça-feira tivemos uma queda de US$ 8 centavos por libra, depois uma oscilação de US$ 10 centavos na quarta, e mais US$ 11 centavos na sexta, dia que vimos uma nova alta de 13 anos e meio e um fechamento que deve estimular mais compras no começo da semana que vem.

Para ajudar os altistas, a divulgação do relatório de posicionamento dos traders (o COT) mostrou que os fundos entre os dias 18 e 25 de janeiro reduziram suas posições compradas em 5 mil lotes, enquanto os comerciais (indústria?) incrementaram sua posição comprada em 3,129 contratos – quase 900 mil sacas de café. Os baixistas estão dizendo que a posição bruta comprada dos comerciais de 59,778 contratos, quase 17 milhões de sacas, é um sinal de que estamos próximos de ver os preços desmoronar, já que o número corresponde a mais de 3 meses de cobertura entre os países importadores.

Talvez, mas em função da cobertura por parte daqueles que usam café estar curta (basta ver a procura no FOB no Brasil para embarque ainda no mês de fevereiro), eu continuo achando que ainda não chegou o momento dos preços pararem de subir. Outros motivos, talvez simples demais, são a manutenção alta dos diferenciais nas origens, e estarmos entrando no período de menor oferta por produtores da maior parte das origens. Vale lembrar também que o maior produtor, Brasil, só começará a colher sua nova safra de arábica em junho (ou a partir de maio em algumas áreas), e curiosamente o volume de embarque em Janeiro tem sido bem abaixo do que imaginado.

O efeito se reflete na arbitragem entre BM&F e ICE, que firmou aindamais, com o março/março fechando em US$ 6.39 por saca de diferença negativa. A procura por café fino no mercado interno brasileiro continua, e os tipos de café mais usuais (mainstream) como o good cup, já negociam a R$ 400.00 a saca. Nas outras origens aparentemente apenas Honduras e Etiópia tiveram um nível de oferta de preços mais interessantes para os compradores, e os outros países produtores estão com seus preços (diferenciais) virtualmente inalterados.

Do lado do consumo a notícia da ABIC de que o Brasil consumirá 20.3 milhões de sacas em 2011, um incremento de 5%, sem dúvida contribuiu para aqueles que precisam de café se assustarem ainda mais. Não seria este o motivo da posição comprada das casas comerciais ter aumentado recentemente? O pensamento pode ser: “Já que o físico está difícil de comprar vamos garantir algo usando os contratos futuros.”

Bem, parece que o café está tentando se desvincular um pouco do macro, mas acho difícil resistir a uma onda maior de notícias ruins. Portanto devemos ficar de olho no Egito, assim como na divulgação de dados econômicos importantes que teremos na próxima semana, com destaque à criação de postos de trabalhos nos Estados Unidos e o índice de desemprego.

Se as águas acalmarem o próximo objetivo de Nova Iorque é os US$ 250.00 centavos por libra – lembrando que para rompermos as altas vistas em 1997, o primeiro contrato (no momento março) tem que negociar acima de US$ 318.00 centavos/libra, e o segundo mês acima de US$ 277.00 cts/libra.

Uma ótima semana e muito bons negócios para todos. 

* Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

Fonte: Archer Consulting

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