Alta das commodities pode durar mais que o previsto

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Aparentemente, o Banco Central (BC) e a Fazenda acordaram para o fato de que a alta dos preços das commodities, especialmente dos alimentos, veio para ficar; e que isso exige a reavaliação da estratégia de combate à inflação. 

A nova postura ficou evidente na preocupação do presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, em examinar a tendência dos preços dos alimentos. O Valor apurou que Tombini procurou o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, e sua equipe para discutir o assunto; e também já contatou técnicos da Fazenda e do Desenvolvimento Agrário. 

O BC está monitorando mais de perto commodities como soja, milho, café e algodão, além dos produtos básicos de consumo como arroz, feijão e hortigranjeiros. Os produtos agropecuários são responsáveis por 22% do IPCA e subiram 7,95% nos doze meses terminados em março, enquanto o índice geral avançou 5,47%. 

As primeiras constatações são que milho, café, soja e algodão estão com os preços acima da média histórica apesar de o país estar prestes a colher uma nova safra recorde. Isso certamente pesará a favor da elevação da taxa básica de juros nas discussões de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom). 

A elevação das commodities é fenômeno global. A demanda aumentou e a oferta não acompanhou. Na China, os preços ao consumidor acumularam alta de 5,4% em doze meses, em março, enquanto os alimentos avançaram 11,7%. 

Estudo recentemente divulgado por dois economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Thomas Helbling e Shaun Roache, diz que os preços dos alimentos estão em alta desde o início do século. 

A crise internacional conteve temporariamente a tendência que agora volta a recuperar seu ímpeto, uma vez que a economia já mostra recuperação em várias partes do mundo. 

Os economistas constataram que o índice de preços do FMI que rastreia o comportamento dos 22 produtos agrícolas mais comercializados está perto do patamar recorde de junho de 2008. 

O principal motivo da alta dos preços internacionais também é o aumento da demanda, que cresceu com a melhoria de situação das economias emergentes, onde os alimentos têm maior peso nos gastos das pessoas. 

A China é responsável por 70% a 80% do aumento da demanda por alimentos entre 2008 e 2010, segundo relatório recém-divulgado pelo Grupo dos 20 (o G-20, grupo de 19 países, mais a União Europeia). 

Tem também um papel relevante na elevação dos preços a transformação de alguns produtos agrícolas em alternativa de investimento de especuladores e hedge funds, cujo movimento foi engrossado pelas políticas de expansão monetária das economias avançadas. 

Houve ainda influência de problemas climáticos e do uso de alguns produtos agrícolas como combustível, casos do milho e da cana. Outro sinal de que o governo brasileiro passou a ver com outros olhos a alta dos preços dos alimentos foi a postura mais conciliadora do país na reunião do G-20 para discutir a disparada das commodities, realizada na reunião da semana passada, paralelamente ao encontro semestral do FMI e Banco Mundial.

Até então, o Brasil vinha se opondo à proposta apresentada pela França, de regulação do mercado de alimentos, receando que os países importadores de commodities impusessem controles aos produtores, como o Brasil. 

Mas isso foi um mal-entendido, segundo Christine Lagarde, a ministra das Finanças da França, que ocupa neste ano a presidência rotativa do G-20. De fato, o Brasil aceitou a proposta francesa de criar mecanismos para regular e supervisionar a excessiva volatilidade dos preços dos produtos agrícolas, evitando "abusos de mercado e manipulação", sem fixar ou tabelar cotações.

Um dos principais alvos do G-20 são os investimentos financeiros em commodities, à vista e em derivativos. O G-20 espera receber propostas concretas a respeito do assunto até setembro. 

O comunicado divulgado pelo grupo registra a expectativa de que a regulamentação garanta "mais transparência no mercado de derivativos para lidar com os abusos e manipulação de mercado". 

A alta dos preços das commodities foi considerada na reunião do FMI como possível entrave à recuperação da economia global na medida em que eleva a inflação e amplia as importações dos países não produtores.

Fonte: AgnoCafe

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