Agricultores de café da Bahia apostam em técnicas orgânicas

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Um grupo de produtores de café da Bahia que está apostando em uma técnica orgânica de cultivo: é o sistema biodinâmico. Esses agricultores conseguem preços bem acima do mercado por causa da alta qualidade dos grãos. Tudo é feito com muito respeito ao meio ambiente.

O clima da Chapada Diamantina é perfeito para o café. Encravada no coração da Bahia, boa parte de seus 31 mil quilômetros quadrados tem mais de 700 metros de altitude. O que deixa a temperatura amena, do jeito que a lavoura gosta. Hoje, o café ocupa perto de 45 mil hectares, pouco mais de 1% da área da Chapada.

A fazenda Terramater tem 90 hectares e fica no município de Ibicoara. O dono, o agrônomo Adeodato Menezes, planta café há quase 30 anos. No começo, a lavoura era tocada no sistema convencional, mas um tinha um detalhe que incomodava. “A monocultura é muito vulnerável, é um sistema que não tem equilíbrio biológico”.

Para fugir da monocultura, em 1998 Adeodato decidiu mudar o jeito de produzir e implantou o conceito da agricultura biodinâmica, que é uma modalidade de agricultura orgânica.

O filósofo e educador Rudolph Steiner acreditava que o homem e o universo devem viver em harmonia e criou conceitos que misturam ciência e espiritualidade. Mais do que uma técnica de produção, a biodinâmica é uma filosofia de trabalho e de vida.

Como na agricultura orgânica, a biodinâmica também não usa veneno nem adubo químico industrializado e busca sistemas de produção mais parecidos com o que acontece na natureza.

A maior parte da fazenda é destinada à preservação. Dos 90 hectares, apenas 22 vêm sendo usados pela família. Oito são de pasto e dez estão ocupados por roças temporárias, terreiro e outras construções. O cafezal tem pouco mais de quatro hectares e é todo sombreado por fruteiras e árvores nativas.

O sombreamento reduz a temperatura dentro da lavoura e ajuda a conservar a umidade do solo. Além disso, as folhas que caem no chão mantêm a terra coberta e viram matéria orgânica, o que contribui para a nutrição das plantas.

A diversidade pode render outros produtos que aumentam a renda da família. Na Terramater se produz uma grande variedade de frutas. Telma, esposa de Adeodato, transforma tudo em geleias orgânicas.

As ruas entre os cafeeiros também são usadas para a produção de outros alimentos, como o milho, por exemplo. Respeitando o conceito da biodiversidade, mato não é problema. “O mato tem uma função, ele identifica problemas, ele corrige problemas. A gente vê uma determinada planta e sabe que o solo está compactado”, explica Adeodato.

O mato deve ser manejado. De tempos em tempos, ele é roçado e fica sobre o solo, servindo de proteção.

Na agricultura biodinâmica, boa nutrição e equilíbrio são fundamentais para a saúde das plantas. Por isso, a adubação é caprichada, feita com composto orgânico, fosfatos e biofertilizantes naturais. Para ajudar no equilíbrio do processo, Steiner desenvolveu alguns produtos, chamados de preparados, que são usados em pequenas doses.

Um dos preparados é chamado de Chifre-Esterco. Depois de cheios com esterco, os chifres são colocados em um buraco e ficam enterrados por duas estações. Se entram no inverno, só saem na primavera.

Outro preparado, chamado Fladen, é feito com um buraco cavado no chão e forrado com madeira. Dentro se coloca esterco fresco e uma fonte de cálcio, que pode ser calcário ou casca de ovo.

Dentro da mistura são abertos cinco buraquinhos. Com um pouco de Fladen já pronto, se faz um bolinho onde serão alojadas as ervas recomendadas por Steiner. Em cada bolinho vai uma erva: mil folhas, camomila, urtiga, casca de carvalho e dente de leão.

Por último, vai o único preparado líquido: a valeriana. Apenas algumas gotas que são diluídas em água e agitadas ou dinamizadas por mais de meia hora. Só depois a solução é espalhada sobre o Fladen. Então o buraco é coberto.

Em mais ou menos seis meses, o Fladen está pronto. Ele é usado na produção do composto orgânico e também como adubo. Diluído em água pode ser pulverizado, ou distribuído junto com a irrigação.

É importante lembrar que na biodinâmica não tem receita pronta. Cada agricultor deve encontrar o melhor jeito de trabalhar, respeitando o lugar onde vive.

Fonte: Globo Rural  

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