A hora e a vez dos cafés especiais no Brasil

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A percepção das redes de cafeteria, bem como a de representantes da cadeia produtiva e especialistas no setor do café é uma só: a segunda bebida mais tomada no mundo passa por um momento de qualificação no consumo e tende a níveis superiores de apreciação no Brasil. O movimento da rede norte-americana Starbucks, que pretende investir maciçamente no País, reforça o otimismo de uma concorrência confiante no próprio crescimento.

"Café é a bebida da década", defende Natan Herszkowicz (foto), o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), segundo a qual o consumo do produto cresce a um ritmo de 4% ao ano. "Os jovens o procuram cada vez mais. Esse mercado tem muito a crescer", afirma.

A Abic estima que há 3.500 cafeterias no Brasil, por meio das quais escoa-se parte dos 19,1 milhões de sacas consumidas pela população (em 2010), o equivalente a cerca de 80 litros do produto final por cidadão. A meta é chegar a 21 milhões de sacas em 2012. Para este ano, Herszkowicz espera faturamento de R$ 7 bilhões na ponta da indústria.

Essa expectativa – que representa aumento expressivo sobre a movimentação financeira do ano passado (R$ 6 bilhões) – deve-se a dois motivos: valorização do café, com grãos de maior qualidade, e alta no consumo, puxada pelas classes A, B e C.

"A qualidade do café oferecido ao consumidor brasileiro melhorou muito nos últimos dez anos. Até 2000, não havia nenhuma marca gourmet disponível nos supermercados", conta Herszkowicz. Atualmente, a Abic classifica 97 marcas dessa forma. "Houve a formação de uma nova geração de profissionais: os baristas. A impressão que se tem é a de que estamos no início".

Outro indicador da evolução do setor é o aumento no tíquete médio, nas gôndolas. Hoje, cafés tradicionais custam R$ 6 por quilo, enquanto os superiores valem R$ 9 por meio quilo e os gourmet, R$ 10 por 250 gramas, como relaciona o representante. O consumo do terceiro tipo de café cresce num ritmo superior ao dos outros: algo entre 15% e 20% ao ano.

Gourmet

"O café gourmet vai chegar às massas porque é um luxo barato", afirma o empresário Marco Suplicy, cuja rede de coffee shops, a Suplicy Cafés Especiais, é definida por ele como um "ponto de encontro muito barato, apesar de ser caro". Nas seis unidades da companhia, que pretende crescer 50% neste ano, o tíquete médio gira em torno de R$ 12.

Para Suplicy, as cafeterias no Brasil se encontram num momento muito parecido com as dos Estados Unidos nos anos 80, "quando a Starbucks se tornava icônica porque popularizava o conceito" . Segundo o executivo, um terço do consumo de café nos EUA acontece em cafeterias. Quanto a nós, "estamos na estaca zero. Há fagulhas, mas a chama ainda não acendeu".

O empresário observa que a população brasileira está retomando níveis de consumo comparáveis aos dos anos 60. "É um momento de renascimento, a perspectiva é excelente", diz, "o Brasil já tem o hábito arraigado de tomar café. À medida que o consumidor descobre o gourmet, ele não volta para trás".

"Os cafés especiais decolaram", afirma Edgard Bressani, o superintendente da Octavio Café, loja única que extrai o produto final da própria matéria prima – uma plantação com quatro milhões de pés de café -, sendo um projeto ousado de barismo. "Estamos num cenário de aumento no consumo e devemos ultrapassar no ano que vem o volume total que é consumido nos EUA", acrescenta.

Suplicy considera coffee shops somente aqueles estabelecimentos em que mais da metade do lucro advém da xícara. "Esse mercado ainda está se iniciando no Brasil", afirma, comparando o País à Austrália, que não é "nem o maior consumidor, nem o maior exportador e nem o maior produtor", mas tem 20 mil lojas do tipo.

Dados atuais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que o café é o alimento mais consumido pelos brasileiros. "Somos os maiores produtores e os maiores consumidores [per capita], mas a forma de se tomar café aqui é diferente", diz Suplicy. Para ele, em São Paulo, por exemplo, o hábito é apressado, "no balcão e de pé", algo contrário à proposta das cafeterias gourmet.

"O coffee shop é uma coisa cosmopolita, tem muito a ver com cidade grande e se coloca como um terceiro local, entre a casa e o trabalho", caracteriza o empresário, referindo-se a um modelo de negócio que trabalha com a permanência do cliente no local. Nesse sentido, o Suplicy Cafés Especiais está reforçando sua zona wi-fi, de internet sem fio.

Starbucks

Uma semana atrás, o presidente da Starbucks, Howard Schult, disse em entrevista à revista alemã Der Spiegel que a companhia dispõe de US$ 2 bilhões para investir na América Latina, com foco no Brasil. A notícia foi bem recebida pelo setor em território nacional.

"Um investimento como esse nos ajuda, atraindo público para as cafeterias", diz Eduardo Pires, o gerente de expansão da franqueadora Vanilla Caffé, que tem 20 unidades, lucro anual de R$ 12 milhões e um plano de expansão que inclui a abertura de 15 lojas, num novo formato, em 2012.

"O mercado está tão aquecido que há espaço para todos, não há briga por pontos comerciais", acrescenta Pires, que gerencia a implementação do novo formato, voltado a shopping centers, universidades e hospitais.

Pelo menos sete lojas da rede Frans Café se sobrepõem às da Starbucks, segundo o sócio-diretor da companhia brasileira, José Henrique Ribeiro. "O público deles é diferente do nosso. Mas onde a Starbucks está conosco é uma prova de que há mercado para todo mundo", diz o executivo, "a concorrência é muito saudável".

Bressani, da Octavio Café, acredita que a Starbucks não compete com as cafeterias brasileiras. "Eles vêm com força total, e se multiplicam. As pessoas que provam o café da rede depois procuram um coffee shop mais refinado", afirma. Para Herszkowicz, da Abic, "os concorrentes brasileiros nada ficam a dever em qualidade à Starbucks, que vai estimular a formação de mais casas de café excelentes no Brasil".

Fonte: Diário do Comércio e Indústria

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