A COMODITIZAÇÃO DO CAFÉ ESPECIAL BRASILEIRO NO EXTERIOR

O Brasil, após a geada negra no Paraná, em 1976, passou a ser conhecido como um produtor de quantidade de café, deixando de lado a qualidade. Já a Colômbia, por outro lado, começou a trabalhar e alardear sua qualidade de excelência com um programa de marketing agressivo e extremamente criativo, associando assim o nome Colômbia à qualidade, percepção que vigora até hoje.

Em 1986, foi criada a primeira associação do Cerrado, em Araguari, pelo sr. Reinaldo Caetano. Usada como modelo, propiciou a criação de outras 8 associações regionais, terminando no Caccer – Conselho das Associações do Café do Cerrado, hoje Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro, com o objetivo de mostrar ao mundo a qualidade do café do Cerrado Mineiro.

A BSCA – Associação Brasileira de Cafés Especiais foi criada por um grupo de produtores mineiros e paulistas, também com intuito de mostrar a excelência do café brasileiro, capitaneada pelo produtor Marcelo Vieira, de Monte Belo. A partir do início de 2000, então, o Brasil passou a vender cafés de qualidade nas melhores torrefações mundiais, fruto do trabalho sério em prol da qualidade.

Em 2005, em Seattle, todos os seis finalistas no mundial de baristas usavam cafés do Brasil, o que prevaleceu até 2008. Mas, após este ano, somente os competidores brasileiros usam cafés brasileiros.

Um dos fatores que provocou este retrocesso foi a banalização da qualidade e da origem. Hoje, é fácil encontrar no exterior cafés brasileiros vendidos como processo lavado, que contem até 70% de café no processo natural, ou seja , produtores de uma região compram cafés de outra, preparados com processos diferentes, com algumas características distintas, comercializando-os como se fossem puros e do mesmo terroir, o que é um problema para aqueles que trabalham de maneira correta.

Afinal, os próprios produtores estão depreciando a qualidade quando se apresenta uma mentira, e o nosso café perde valor em relação aos outros produtores mundiais.

O Brasil produz cafés de excelente padrão, como acontece em todos os países produtores – afinal, um café de 91 pontos brasileiro tem a mesma qualidade de um café de qualquer outra origem com 90 pontos, mas com característica sensorial diferente.

O erro dos brasileiros hoje está em apresentar cafés bons como cafés especiais, e com preços de especiais. Essa é a percepção da nova geração de torradores de cafés especiais que, quando ouvem falar de café brasileiro, torcem o nariz, como se nós tivéssemos somente cafés comuns, resultado da comoditização do café especial brasileiro, culpa dos próprios exportadores brasileiros.

* Bruno Souza – especialista em cafés especiais, produtor, exportador e barista. (Especial para o Territórios Gastronômicos – Da Academia do Café) via Hoje Em Dia

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